terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Mediocridade, quanta mediocridade!

Ligo a TV no domingo, à noite. E vejo um grupo de pessoas, na maioria jovens, chorando, se abraçando, desesperados.
Alguns exibindo uma camisa alvinegra para as câmeras; outros apontando o próprio coração. Ouço então, em diversos programas exibidos, os termos tragédia, saga, uma nação sofredora.
Pensei então em terremoto, guerra nuclear, epidemias devastadoras, queda de mais aviões, matanças indiscriminadas e outras desgraças dessa espécie. E era somente a queda do Corinthians para uma tal de Série B do futebol brasileiro.
Soube então que torcedores, sim torcedores de futebol, criticaram jogadores de seu time dentro do avião, ou os esperaram no aeroporto de Congonhas ou foram pressionar o clube em seu estádio.
Li que um torcedor declarou que a queda do time foi mais triste que a morte da própria mãe!
E, ainda hoje, em qualquer jornal sério, escrito ou televisivo, boa parte do noticiário é dedicado ao Corinthians!
Enquanto isso, nossa educação coleciona títulos mundiais de baixa qualidade.
Enquanto isso, o aquecimento global vai paulatinamente destruindo a Natureza.
Enquanto isso, boa parte do País continua na miséria.
Enquanto isso, temos uma TV digital que segue o modelo mais caro do mundo, o japonês.
Enquanto isso, os EUA podem invadir o Irã ainda na administração Bush.
Enquanto isso, um senador da República, acusado de corrupção, zomba diariamente de seus eleitores.
Enquanto isso, considera-se normal que mulheres fiquem aprisionadas com homens.
Chega de mediocridade! Parem a espaçonave, que quero descer!

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Pitangueira na Av. Paulista

Caminhar pela Av. Paulista, principalmente em dia de trabalho intenso, não é um programa fácil. Encontrões, esbarrões, trânsito medonho, um clima que se alterna entre o calor asfixiante e o frio mais úmido possível. Divirto-me observando as pessoas, sempre naquela correria, buscando algum significado para as suas vidas. Ternos, gravatas, saias, vestidos, bonés, tênis, bermudas, tatuagens, piercings, é um verdadeiro balé humano, somente encontrado nas grandes metrópoles.
Mas, a avenida sempre nos revela alguma surpresa. Atravesso a rua, naqueles parcos segundos determinados pelo farol, com alguma adrenalina, e vejo, sobre a grama de um canteiro, pequenas esferas avermelhadas. Resolvi, coisa de maluco, as olhar mais perto. E encontro, que maravilha, pitangas. Gente, não estou sonhando, não é delírio de velho senil, pitangas mesmo. Em plena Av. Paulista!
Ousado quem plantou uma pitangueira num ambiente tão inóspito. Mas, ela está lá, garbosa, elegante, gerando seus frutos. Leio na Internet que os especialistas recomendam plantá-la em terrenos férteis, profundos e bem drenados. E que ele pode atingir até 10m de altura.
Não sei se ela sobreviverá num canteiro, em plena calçada, de uma poderosa avenida. As condições de tal canteiro, salvo engano (não sou botânico, nem biólogo), estão longe dessas recomendações.
Mas, ela me trouxe recordações da infância, boas recordações na verdade, de um tempo em que éramos ingênuos e acreditávamos que somente o estudo poderia melhorar a vida deste País. Hoje, percebemos que somente um povo politicamente organizado e atuante pode mudar a sua realidade.
Torço por ela. E espero que os ambientalistas urbanos zelem pela sua conservação.

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Serra e a Educação

Em 15 de outubro passado, a Folha de São Paulo publicou matéria com o seguinte título Professor de SP ganha 39% menos que do AC. Dizia o texto, inicialmente, que o professor em princípio de carreira da rede estadual paulista recebe 39% menos do que o do Acre. Um professor que trabalha 120 horas por mês, em São Paulo, tem salário de R$ 966 e consegue comprar 4,9 cestas básicas. Já o do Acre recebe R$ 1.580 e compra 12,6. A reportagem considerou a cesta básica de setembro, sendo que a de São Paulo custava R$ 194,34 e a do Acre, R$ 124,47. Para o cálculo, ainda, a matéria afirmava que nenhuma gratificação foi contabilizada.
Qual foi a reação do governo do Estado, publicada no dia seguinte? A secretária estadual da Educação de São Paulo, afirmou que qualidade do ensino não tem relação com salário dos professores! E o governador Serra considerou “sem cabimento” comparar São Paulo ao Acre, pois o Estado do Norte praticamente não gastaria com aposentados e teria aproximadamente de 70% a mais de recursos disponíveis por habitante. E ainda declarou à Folha que São Paulo paga “dentro das possibilidades do Estado hoje”.
Então, como ficam os professores? Não podem comprar livros, não podem frequentar seminários, não podem ir ao cinema e ao teatro, não podem continuar estudando? Enfim, estão proibidos de se atualizar, pelo visto, segundo a mentalidade de nossos dirigentes. Como um professor de Geografia, exemplificando, vai comunicar aos seus alunos o esplendor de Foz de Iguaçu, se lá nunca esteve? Como um professor de Matemática vai motivar seus discípulos sobre as fantásticas ferramentas da matéria, se não participa de congressos? Teria outros milhares de exemplos.
A culpa será então dos aposentados, governador Serra? Das condições desfavoráveis do orçamento? Com tanta arrecadação? E quanto é o gasto do Estado com publicidade? E quantas outras funções do Estado poderiam ser minimizadas, para que tenhamos pelo menos uma educação de primeira qualidade? Ou será, não quero afirmar peremptoriamente, que temos desvios financeiros em São Paulo?
Governador, se mexa. 2010 está chegando e o senhor precisará batalhar muito o meu e o voto de muita gente, se quiser continuar na política. Não esqueceremos as suas declarações.

sábado, 29 de setembro de 2007

Os Invisíveis

Morreram Josenildo José e Francisco. Quem? Enquanto as manchetes dos jornais chamam as nossas atenções para os escândalos do Renan, para as agruras do Lula e para a corrupção do Corinthians, mais dois jovens, representantes dos invisíveis desta cidade, foram brutalmente assassinados na periferia de São Paulo. O próprio criminoso é um representante desses invisíveis.
São pessoas que vivem à margem de qualquer possibilidade de qualidade de vida. Moram em residências precárias, não contam com uma infra-estrutura minimamente decente, estão longe de serem atendidos de modo inteligente e rápido pela polícia. A mídia descobre então que a vida desses meninos, como de tantos outros, se limitava a ir da casa para a escola e vice-versa. Lazer? Passeios a pé na mata fechada. Os dois apenas foram olhar um pé de jaca e encontraram o seu algoz.
São esses invisíveis que ocupam os empregos de baixa renda, que zelam pelo conforto dos mais abonados, que utilizam duas, três condições para chegar ao trabalho (quando este existe), que dormem quatro horas por dia (quando conseguem). Somente tornam-se notícia quando sofrem ou cometem alguma desgraça.
E o criminoso confesso? Não quero acusar ninguém, até porque não sou médico nem juiz, mas por desleixo profissional (virou institucional nacional a incompetência) ele estava livre e solto. Descobrimos agora que a medicina forense tem agido precariamente em casos semelhantes. Desenvolveremos agora mais uma paranóia nacional - quantos doidos varridos não estão circulando entre nós?, será a nova questão popular. Renderá matérias por algum tempo, até o esquecimento final.
O que dizer à mãe dos meninos? Pelo que sei até agora, sua missão na Terra se restringia a criar os filhos. Terá coragem para aguentar o sofrimento, se recuperar parcialmente e educar os que estão vivos? Terá apoio do Estado e a solidariedade da sociedade? Ou voltará à condição de invisível? Por ironia, ela mora na Travessa Nova Esperança.

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Renan e seus asseclas

Muitos especialistas já escreveram sobre o assunto, a maioria indignada com a subserviência do Senado a esquemas de corrupção e às necessidades do poder executivo.
Não sei qual a surpresa despertada pelo fato. A Constituição brasileira de 88 estabeleceu a existência de três poderes, de três instâncias de governabilidade - Executivo, Judiciário e Legislativo que, teoricamente, deveriam administrar o País de modo harmônico mas independente.
Seria uma cópia do modelo norte-americano, já consagrado desde a Proclamação da República. Não estou aqui buscando a perfeição técnica nos argumentos, mas apenas comentar que a realidade dos fatos é bem diferente do imaginado.
Que independência é essa, precisamos perguntar inicialmente. O Legislativo, para cumprir o seu orçamento, depende das verbas do Executivo; o mesmo se sucede com o Judiciário. Por outro lado, politicamente os três poderes se engalfinham em jogos de poder constantes. Hoje, você é deputado ou senador; amanhã você poderá estar ministro; anos depois você poderá ser consagrado juiz do Supremo Tribunal, não necessariamente nessa sequência.
Um exemplo típico é o senhor Nélson Jobim. Assim, todos, ministros, juízes e parlamentares carregam para as suas decisões indissociáveis tendências e ideologias políticas. Até que ponto, portanto, podemos acreditar que a atual oposição está pensando nos interesses maiores do País ou quer dificultar o governo Lula, impedindo-o de vencer as próximas eleições municipais e eleger um sucessor mais palatável? E o próprio PT e seus liderados está pensando efetivamente no quê? Reorganizar o País ou, num estalinismo renascido, se manter por muitas gerações no poder?
Essa confusão ideológica, aliada a um número exagerado de partidos políticos, geralmente legendas de ocasião, permite o nascimento e o crescimento desses coronéis estilo Renan, que manipulam a todos e conseguem sobreviver a tantos governos. Ele é corrupto? Precisamos analisar os fatos de modo mais racional, mais objetivo. Pessoalmente, creio que ele deveria ser cassado pelo bem da ética pública. Agora não dá para entender a posição política de alguns senadores - se você acreditava na culpa ou queria prejudicar o governo Lula, votasse pela cassação; se acreditava na inocência ou estava incluído em algum esquema governamental, votasse pela manutenção do mandato. Agora, se abster, ficar em cima do muro, não é apenas covardia, é desrespeito flagrante com o seu eleitor, viu senhor Mercadante.
Agora, esse País continua precisando de um choque de informações; sei de gente que não conseguiu analisar os fatos porque simplesmente desconhece a nossa organização política - cadê o papel da escola em ensinar cidadania? Deixo essa pergunta no ar.

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Tio Lula na terra do Papai Noel

Mais uma viagem do tio Lula. Visitará os países escandinavos, com alguns objetivos mais econômicos - divulgar o biocombustível principalmente. Também estará na pauta a vaga no Conselho de Segurança da ONU. Não sabemos se ele será recebido também pelo Papai Noel e os duendes - o roteiro de viagem não confirmou essa informação.
Agora, tio Lula poderia aproveitar esse novo passeio e aprender alguma coisa que fosse útil ao Brasil. Por exemplo, como a Finlândia se instrumentalizou para evitar a corrupção política. Lá os bens de servidores públicos são de conhecimento de toda a população. Um mero detalhe.
Mas, é na educação que os escandinavos não dão um banho. As últimas estatísticas afirmam que na Finlândia apenas 12 alunos estão fora da escola; a educação básica é obrigatória e gratuita - também são gratuitos, durante os primeiros 9 anos de escola, o transporte, a refeição e todo o material escolar. Todas as escolas na Finlândia são gratuitas, inclusive as particulares (estas financiadas pelo Estado)!!!!! Os professores são respeitados, com ótimos salários e apoio psicológico.
Na Suécia, as escolas funcionam em tempo integral. Também as particulares são gratuitas; investe-se muito na autonomia dos alunos. A partir dos 13 anos, todo estudante sueco aprende a consertar bicicletas, aparelhos domésticos, entende os fundamentos de hidráulica, de elétrica, de mecânica, aprende inclusive a preparar o almoço e o lanche, entre outros conhecimentos. E na Suécia um bom professor precisa ter as seguintes características:
- possuir amplo conhecimento da matéria.
- dar ao aluno a responsabilidade de seus estudos.
- ser colaborador com seus colegas professores.
- ter uma perspectiva alargada para ensinar.
Vou parar por aqui antes que fique vermelho de raiva e de boa inveja. É outro planeta, gente. Ambos os países são campeões nas avaliações internacionais sobre educação. Minha filha Jéssica me pede que eu não me dedique a informações desse tipo, pois terei desgosto cada vez maior com a educação brasileira. Mas sou um esperançoso incorrigível. Até outro dia.

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Esse PT é irônico

Então o ilustre Partido dos Trabalhadores resolveu se apresentar como o partido mais ético do País? Que piada! Então, caro leitor, como devem ser os outros partidos? A verdade, amigos, é que a política brasileira, desde tempos imemoriais, sempre foi uma mistura de safadeza, falsos idealismos e defesa dos interesses dos poderosos de plantão.
A prática política acaba girando sempre em torno da preservação de cargos e de figuras que manipulam os recursos nacionais em proveito de si próprios e/ou de grupos que representam. Observem a oposição. O que é o PSDB hoje? Se um tufão eliminar figuras como FHC, Serra, Aécio Neves, Jereissati e Alckmin, restará o quê? Tiveram o poder nas mãos por 8 anos e traíram os compromissos social-democratas históricos, caindo no ralo comum do neo-liberalismo. Agora, seus militantes ficam num dilema - como ser oposição extremada a um petismo que adotou as mesmas políticas econômicas do governo anterior? Adotar a ética como princípio de recuperação de poder? Mas, se o mensalão teve início em Minas, em governo de tucano? Acreditar nos Democratas, descendentes do PFL, que na verdade era o sucessor dos golpistas de 64? Há indícios que na Bahia, com a morte do ACM, alguns dos líderes Democratas estariam negociando sua adesão à base lulista. Voltamos então ao tema desse blog - somente a educação profunda, democrática, extensiva pode salvar este País de tanta enrolação política. Somente gente informada pode agir como cidadã e cobrar seus direitos.