Muitos especialistas já escreveram sobre o assunto, a maioria indignada com a subserviência do Senado a esquemas de corrupção e às necessidades do poder executivo.
Não sei qual a surpresa despertada pelo fato. A Constituição brasileira de 88 estabeleceu a existência de três poderes, de três instâncias de governabilidade - Executivo, Judiciário e Legislativo que, teoricamente, deveriam administrar o País de modo harmônico mas independente.
Seria uma cópia do modelo norte-americano, já consagrado desde a Proclamação da República. Não estou aqui buscando a perfeição técnica nos argumentos, mas apenas comentar que a realidade dos fatos é bem diferente do imaginado.
Que independência é essa, precisamos perguntar inicialmente. O Legislativo, para cumprir o seu orçamento, depende das verbas do Executivo; o mesmo se sucede com o Judiciário. Por outro lado, politicamente os três poderes se engalfinham em jogos de poder constantes. Hoje, você é deputado ou senador; amanhã você poderá estar ministro; anos depois você poderá ser consagrado juiz do Supremo Tribunal, não necessariamente nessa sequência.
Um exemplo típico é o senhor Nélson Jobim. Assim, todos, ministros, juízes e parlamentares carregam para as suas decisões indissociáveis tendências e ideologias políticas. Até que ponto, portanto, podemos acreditar que a atual oposição está pensando nos interesses maiores do País ou quer dificultar o governo Lula, impedindo-o de vencer as próximas eleições municipais e eleger um sucessor mais palatável? E o próprio PT e seus liderados está pensando efetivamente no quê? Reorganizar o País ou, num estalinismo renascido, se manter por muitas gerações no poder?
Essa confusão ideológica, aliada a um número exagerado de partidos políticos, geralmente legendas de ocasião, permite o nascimento e o crescimento desses coronéis estilo Renan, que manipulam a todos e conseguem sobreviver a tantos governos. Ele é corrupto? Precisamos analisar os fatos de modo mais racional, mais objetivo. Pessoalmente, creio que ele deveria ser cassado pelo bem da ética pública. Agora não dá para entender a posição política de alguns senadores - se você acreditava na culpa ou queria prejudicar o governo Lula, votasse pela cassação; se acreditava na inocência ou estava incluído em algum esquema governamental, votasse pela manutenção do mandato. Agora, se abster, ficar em cima do muro, não é apenas covardia, é desrespeito flagrante com o seu eleitor, viu senhor Mercadante.
Agora, esse País continua precisando de um choque de informações; sei de gente que não conseguiu analisar os fatos porque simplesmente desconhece a nossa organização política - cadê o papel da escola em ensinar cidadania? Deixo essa pergunta no ar.
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