Faleceu na semana passada a sogra da minha filha Ingrid. Foi um susto. Ela vinha há muitos anos com problemas cardíacos, motivados principalmente pela doença de Chagas. Tudo indica que morreu num sopro, sem grandes sofrimentos, como um passarinho (esta é uma expressão bem antiga).
O marido ficou muito chocado, quase sem controle, à beira de um processo depressivo. O filho, meu genro, instruído nos dogmas budistas, recebeu a notícia aparentemente mais calmo, mas no enterro demonstrou todo o sofrimento acumulado, sendo amparado pelos amigos.
Mas, o que deveríamos fazer neste momento? 10 mil anos de civilização, e outro tanto de estudos religiosos e filosóficos, ainda não nos ajudaram a encarar a morte como fenômeno natural. Sempre haverá aqueles que lamentarão profundamente a morte ocorrida, mesmo que anunciada, aqueles que lembrarão momentos significativos que passaram com a pessoa falecida, aqueles que farão projeções para o futuro dos sobreviventes, aqueles que lamentarão ter deixado pendências emocionais com ela, os que querem efetivamente se solidarizar, bem como os críticos, os hipócritas e os oportunistas.
Nos últimos dias, a morte tem se apresentado para mim, de modo bem nítido. Além da Dona Conceição e do falecimento de celebridades, soube pelo Orkut que nos deixaram uma antiga namorada (isso há 20 anos!) e uma grande amiga dos tempos da FAAP (há um ano).
Com todas, tive pendências. A Dona Conceição pretendia visitar o meu apartamento; não houve tempo para tanto. E eu nunca disse à minha ex, Rosa, e à minha amiga, a Noêmia, o quanto eu gostava delas e o quanto eu lamentava estar afastado delas.
Como me escreveu outro amigo da FAAP, o Renato Modernell, a vida é repleta de escolhas e nem sempre são as melhores.
O filósofo André Comte-Sponville, em seu livro Apresentação da Filosofia (Martins Fontes) escreve que ““Na morte, uns vêem uma salvação, que talvez alcancem, ou também, a expressão é de Platão, “um bom risco a correr”. Os outros, que não esperam nada, salvo o nada, vêem nela porém mais ou menos um descanso: o desaparecimento do cansaço. As duas idéias são amenas, ou podem ser. É para isso que a idéia da morte pode servir: para tornar a vida mais aceitável, por meio da esperança, ou mais insubstituível, por meio da unicidade. Em ambos os casos, mais uma razão para não a desperdiçar””. E ele finaliza “é preciso pensar a morte para amar melhor a vida – em todo o caso, para amá-la como ela é: frágil e passageira -, para apreciá-la melhor, para vivê-la melhor”.
Deixo vocês com essas penetrantes palavras.
2 comentários:
E comento ainda: "deixe os mortos enterrarem seus mortos".
E antes que fique tarde demais, profis, adoroooooo um tantão enorme o sr.!!!!
=)
Seria pleonasmo acima?
Se não estiver enferrujada...
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