Fiquei ensimesmado com duas reportagens publicadas recentemente, uma pelo Estadão (Férias Escolares Agravam Penúria, em 28/06/2008) e outra pela Folha de São Paulo (Bolsa Família “Perde” Para a Cesta Básica, de 29/06/2008). Demorei inclusive para escrever este texto, porque queira fugir dos preconceitos e estereótipos.
A matéria do Estadão focava uma dona de casa, Ana Cristina Souza, 31 anos de idade, mãe de cinco crianças e grávida da sexta. Ela recebe o Bolsa Família de R$ 112 e o marido ganha R$ 600 mensais, como ajudante de obra.
O tema da matéria era a situação difícil em que muitas famílias ficam, quando chegam as férias escolares. Nessa época, as despesas com alimentação aumentam, pois as crianças perdem o acesso à merenda escolar (lanche e almoço).
A Folha abordou que o valor da Bolsa Família, mesmo com o ajuste anunciado pelo Governo Federal, de 8%, continuaria defasado em relação ao valor da cesta básica.
Duas famílias de Pernambuco foram apresentadas no artigo, a de Sueli Dumont e a de Micinéia dos Santos, ambas com 36 anos de idade. Micinéia é mãe de três filhos, com 9, 8 e 6 anos de idade. Além da Bolsa Família, seu marido está plantando feijão para ajudar nas despesas de casa.
Sueli, por outro lado, recolhe garrafas PET em um lixão (ganha R$ 0,80 por saco), para por comida na mesa. Sua situação é crítica. Mãe de oito filhos, o mais novo com três anos de idade. Três das suas filhas já são mães adolescentes: a Kássia, 19 anos de idade, possui dois filhos, sua irmã gêmea, Késsia, estava grávida de 5 meses, e a Priscila, 16, também tem um filho. Na reportagem, todas aparecem sorridentes. A Kássia fez um curso de cabeleireira, pelo qual sua mãe recebeu ajuda estatal. Ao terminar, não arrumou emprego e, além disso, ficou viúva, pois o marido morreu afogado este ano.
Muitas vezes ouvi que desgraça pouca é bobagem. Mas, lendo essas matérias, baixou uma angústia, um desprezo pela cultura deste País, um asco em relação às políticas públicas.
Os governos anunciam que a vida no Brasil melhorou, que se formou uma nova classe média, consumidora. Mas, e os miseráveis? Não podemos abandoná-los à sua própria sorte e, nesse contexto, o Bolsa Família é uma ajuda aceitável. Porém, e o futuro? Onde está o compromisso dessas famílias com a responsabilidade social, com o bem estar geral de seus filhos? Continuarão a gerar mais miseráveis, sem perspectivas, a não ser a marginalidade social? Está passando a hora de um planejamento familiar mais rigoroso. Posso estar sendo simplista, mas não vejo esperanças para famílias como essas das matérias.
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