segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Fidel, a Eterna Sombra

Não é fácil escrever sobre Fidel Castro, sem tomar algum partido. Em casa mesmo, tivemos discussões homéricas sobre o assunto, que não chegaram a conclusões explícitas.
Mas, vamos aos fatos:
- no tempo de Fulgêncio Batista, Cuba não passava de um quintalzão dos EUA, onde predominavam os jogos de azar e a prostituição.
- dissidentes eram perseguidos cruelmente.
- líderes revolucionários, entre eles Fidel e Che Guevara, com muita coragem pessoal derrubaram o ditador.
A partir deste momento, a História, sempre ela, se desdobrou em vertentes. Os EUA, na minha opinião em mais um erro de estratégia diplomática, resolveram defender os direitos de seus tão bonzinhos cidadãos e passaram a boicotar o regime cubano.
Fidel e seus comandados, na ânsia de buscar apoio externo e com uma intenção deliberada de se vingar dos EUA, adotaram então princípios marxistas mais evidentes e se aliaram à causa soviética. E tentaram espalhar a tal "revolução" para outros países da América Latina, com pouco sucesso.
Na verdade, houve avanços claros na sociedade cubana, sob a liderança de Fidel. Bons investimentos em saúde e na educação, principalmente. Os negros cubanos são hoje os mais socialmente integrados do mundo, gozando de uma qualidade de vida e respeito que não encontram em outros países do mundo.
Mas, Fidel cometeu também seu grande erro. Passou a se considerar como o único em condições de governar o país, o que redundou numa ditadura terrível para os eventuais dissidentes. Novas lideranças não se formaram, muita gente fugiu de Cuba e a economia, após o fim da URSS, tornou-se um desastre galopante.
O que fazer agora? Fidel, apesar de "aposentado", continuará atuando nos bastidores. Os EUA exigem, para o fim do seu boicote, uma liberação do regime, que pode redundar em outros desastres se não for bem administrada. O caos econômico seria o menor deles.
Aconselho muita calma neste momento. Rompantes machistas de lado a lado não ajudarão em nada o povo cubano, nem iniciativas pró-capitalistas imediatistas e oportunistas. A libertação de todos os presos políticos e o restabelecimento do direito de reunião, a todos os dissidentes do regime, seria um grande passo inicial. Aguardemos.

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Universidade Nacional de Seul

O Etapa promoveu, na última quinta-feira, uma palestra com professores da Universidade Nacional de Seul. O objetivo principal do encontro foi promover a referida Universidade perante os brasileiros e abrir a estes a possibilidade de uma graduação, mestrado ou doutorado em Seul.
Senti-me um peixe fora d'água em boa parte do tempo. Era um dos poucos adultos presentes e também um dos poucos que não pertenciam a alguma colônia oriental brasileira. Menos mal que fui acompanhado pela minha filha.
Um dos professores palestrantes surpreendeu a todos com um castelhano quase perfeito. Num país como o nosso em que muitos não conseguem nem falar corretamente o idioma Português, torna-se até emocionante o esforço de um coreano em aprender um idioma latino.
Senti-me porém angustiado com as informações que fui recebendo. A primeira grande ação pró-educação universal na Coréia ocorreu na Idade Média, há uns 700 anos, por determinação de um rei, Sejong.
O PIB per capita da Coréia do Sul era de 100 dólares em 1960, pobreza africana, atingindo em 2006 o valor de 20 mil dólares, PIB de país desenvolvido. A Coréia do Sul é hoje a 11ª economia do mundo. E as razões apontadas para tal desenvolvimento são básicas: acumulação de capital, trabalho, educação e produtividade.
37,8% da economia mundial está na Ásia e a América do Sul, a África e a Austrália são meros figurantes, ao fornecerem minério de ferro e aço para os países desenvolvidos. O palestrante até pediu desculpas ao fornecer essas informações.
Mas, impressionante é a estrutura da Universidade. Hoje ela ocupa o 51º lugar no ranking das melhores universidades do mundo, possui 2084 professores em tempo integral e, pasmem!, 95,4% com Doutorado. Em 2005, foram publicados 3945 artigos pela Universidade, que ocupa a 31ª colocação em pesquisas científicas no mundo. Dos funcionários públicos de alto nível da Coréia do Sul, 75% se formaram na Universidade Nacional de Seul; também se formaram na mesma escola 47,8% dos parlamentares da Assembléia Nacional. Seu orçamento é de US$ 505 milhões, com a distribuição de US$ 59 milhões em bolsas de estudo.
O que dói é que o Brasil continua inventando a roda. Não temos um projeto de futuro, dispersamos o dinheiro em corrupção e consumo fácil, trabalhamos muito mas de modo frequentemente improdutivo, não formamos professores em quantidade e qualidade necessárias e nossos estudantes demonstram um interesse errático pelos estudos. Um País que não consegue sair do dilema entre se tornar uma potência econômica respeitada ou se tornar um paraíso turístico para estrangeiros. Será que algum dia conseguiremos conciliar todas as nossas vocações, todos os nossos potenciais?

O Ano Começou! Será?

Estou com saudades do Carnaval. A Av. Paulista está um caos! Obras, obras, obras, gente apressada, desesperada, agressiva, descontente. Pressa, pressa, pressa! Será a paulistanice invadindo cérebros e corações?
Do Carnaval, restou a imagem de mulheres quase nuas em busca de contratos promocionais e de novas fotos em revistas masculinas. As cifras impressionam: 100 mil, 200 mil, 300 mil reais, etc. Como disse a minha filha: será que vale a pena estudar? Ou seria melhor esculpir um corpo, com ginástica, silicone e alimentação controlada? Que opinem as mulheres. Não sou moralista e acredito que uma bela mulher seja uma das imagens mais bonitas, mais atraentes da Natureza. Mas, o ganho financeiro dessas mulheres me enoja.
E o Brasil real continua o mesmo. Governo federal em crise por causa do desmatamento da Amazônia; se não há consenso entre os ministros, o que esperar do povo, constituído de pobres mortais desinformados?
Outro tema porém tomou conta do noticiário: o descontrole dos cartões corporativos por parte do governo Lula. E este, mais uma vez, foi de uma esperteza cavalar: se querem investigar os gastos do meu governo, eu topo. Mas, que investiguem também o governo FHC. Xeque-mate nos tucanos, esses que querem chegar ao poder novamente, mas que procuram vender uma falsa imagem de pureza. Eu, como cidadão, continuo exigindo investigações. Pago imposto até quando estou evacuando e não é para sustentar elites, novas ou antigas.
Agora, temos um novo fato. Foram furtados documentos secretos da Petrobrás. Estamos nos modernizando - agora sofremos espionagem industrial!
Ainda é cedo para escrever sobre o tema, mas a obabamania está tomando conta do noticiário. Um negro na Casa Branca! E não me enviem piadinhas racistas! Assisti a um debate na TV Cultura a respeito. Praticamente, os participantes chegaram a alguns consensos: o Obama não será o candidato democrata e a Hillary perderá a eleição para o McCain. Essa coisa de brasileiro interessado nas eleições norte-americanas me parece diversionismo, escapismo em relação aos problemas nacionais. Será que o próximo presidente dos EUA terá coragem de enfrentar os lobbies da indústria petrolífera, de retirar as tropas do Iraque e do Afeganistão, de obrigar militarmente Israel a cumprir seus acordos com os palestinos, de elaborar políticas objetivas para a salvação do continente africano? Não me preocupo com a etnia, com o sexo e com o pensamento filosófico do vencedor, mas sim com a esperança de alguma sobrevida para os viventes do planeta Terra, humanos ou não. Se for o Obama, o preferido dos liberais, e se ele se comprometer com essas bandeiras, terá todo o meu precário e distante apoio.