Há mais de 20 anos, no prédio onde a minha sogra morava, conheci uma mulher chamada Daisy, casada com um empresário italiano, sua mãe, Dona Elza, e uma filha, a Carla. Não éramos íntimos, até porque eles eram mais conhecidos da família da minha sogra; os encontrava eventualmente.
Os tempos passaram e perdi o contato com eles; minha sogra faleceu e nunca mais voltei àquele prédio.
Lendo o Estadão de 26/03/2009, li a história de uma professora de nome Daisy, com uma filha chamada Carla, que mora numa residência improvisada dentro de um ponto de ônibus. Seu marido, italiano, descobriu estar com câncer e resolveu morar na Itália. Venderam tudo que possuíam. Lá ele faleceu. A família perdeu tudo; Daisy passou a trabalhar para uma condessa. Sua filha Carla, porém, engravidou de um italiano. Envergonhada com o fato, Daisy retornou para o Brasil. Aqui, Carla se envolveu com um marginal, que tentou levá-las para um prédio invadido. Daisy se recusou e, agora se movimentando numa cadeira de rodas, preferiu morar na rua. Sua neta está num abrigo para menores.
Daisy e Carla são as mesmas pessoas do início do texto, o que merece de nós alguma reflexão, sem tripudiar sobre o sofrimento alheio. Soube, por terceiros, que Daisy sempre acreditou que sua vida continuaria estável, confortável. Carla também estudou muito pouco e nunca trabalhou. Em 20 anos, porém, a situação mudou completamente; não havia um plano B, um caminho alternativo que permitisse às duas manter ou recuperar parte de sua riqueza anterior.
Há muitos anos, uma aluna esteve na mesma situação; sua família faliu. E ela foi buscar a mudança, tornando-se uma excelente estudante e uma executiva de Marketing promissora.
Daisy dificilmente sairá da penúria em que vive, a não ser que alguém resolva ampará-la; quando morrer, não sei o que a Carla fará de sua vida. E, sem uma residência confortável e uma renda estável, sua filha continuará no abrigo.
Que tudo isso sirva de lição para nós, pobres mortais que muitas vezes vivemos arrogantemente, acreditando que conquistamos tudo, não nos preparando para eventuais desgraças.
Um comentário:
quando o vento muda de direção... Algumas coisas podem mudar, outras não. Não é uma loteira, mas uma questão de visão. Estar atento é necessário.
Postar um comentário