segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Pitangueira na Av. Paulista

Caminhar pela Av. Paulista, principalmente em dia de trabalho intenso, não é um programa fácil. Encontrões, esbarrões, trânsito medonho, um clima que se alterna entre o calor asfixiante e o frio mais úmido possível. Divirto-me observando as pessoas, sempre naquela correria, buscando algum significado para as suas vidas. Ternos, gravatas, saias, vestidos, bonés, tênis, bermudas, tatuagens, piercings, é um verdadeiro balé humano, somente encontrado nas grandes metrópoles.
Mas, a avenida sempre nos revela alguma surpresa. Atravesso a rua, naqueles parcos segundos determinados pelo farol, com alguma adrenalina, e vejo, sobre a grama de um canteiro, pequenas esferas avermelhadas. Resolvi, coisa de maluco, as olhar mais perto. E encontro, que maravilha, pitangas. Gente, não estou sonhando, não é delírio de velho senil, pitangas mesmo. Em plena Av. Paulista!
Ousado quem plantou uma pitangueira num ambiente tão inóspito. Mas, ela está lá, garbosa, elegante, gerando seus frutos. Leio na Internet que os especialistas recomendam plantá-la em terrenos férteis, profundos e bem drenados. E que ele pode atingir até 10m de altura.
Não sei se ela sobreviverá num canteiro, em plena calçada, de uma poderosa avenida. As condições de tal canteiro, salvo engano (não sou botânico, nem biólogo), estão longe dessas recomendações.
Mas, ela me trouxe recordações da infância, boas recordações na verdade, de um tempo em que éramos ingênuos e acreditávamos que somente o estudo poderia melhorar a vida deste País. Hoje, percebemos que somente um povo politicamente organizado e atuante pode mudar a sua realidade.
Torço por ela. E espero que os ambientalistas urbanos zelem pela sua conservação.

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Serra e a Educação

Em 15 de outubro passado, a Folha de São Paulo publicou matéria com o seguinte título Professor de SP ganha 39% menos que do AC. Dizia o texto, inicialmente, que o professor em princípio de carreira da rede estadual paulista recebe 39% menos do que o do Acre. Um professor que trabalha 120 horas por mês, em São Paulo, tem salário de R$ 966 e consegue comprar 4,9 cestas básicas. Já o do Acre recebe R$ 1.580 e compra 12,6. A reportagem considerou a cesta básica de setembro, sendo que a de São Paulo custava R$ 194,34 e a do Acre, R$ 124,47. Para o cálculo, ainda, a matéria afirmava que nenhuma gratificação foi contabilizada.
Qual foi a reação do governo do Estado, publicada no dia seguinte? A secretária estadual da Educação de São Paulo, afirmou que qualidade do ensino não tem relação com salário dos professores! E o governador Serra considerou “sem cabimento” comparar São Paulo ao Acre, pois o Estado do Norte praticamente não gastaria com aposentados e teria aproximadamente de 70% a mais de recursos disponíveis por habitante. E ainda declarou à Folha que São Paulo paga “dentro das possibilidades do Estado hoje”.
Então, como ficam os professores? Não podem comprar livros, não podem frequentar seminários, não podem ir ao cinema e ao teatro, não podem continuar estudando? Enfim, estão proibidos de se atualizar, pelo visto, segundo a mentalidade de nossos dirigentes. Como um professor de Geografia, exemplificando, vai comunicar aos seus alunos o esplendor de Foz de Iguaçu, se lá nunca esteve? Como um professor de Matemática vai motivar seus discípulos sobre as fantásticas ferramentas da matéria, se não participa de congressos? Teria outros milhares de exemplos.
A culpa será então dos aposentados, governador Serra? Das condições desfavoráveis do orçamento? Com tanta arrecadação? E quanto é o gasto do Estado com publicidade? E quantas outras funções do Estado poderiam ser minimizadas, para que tenhamos pelo menos uma educação de primeira qualidade? Ou será, não quero afirmar peremptoriamente, que temos desvios financeiros em São Paulo?
Governador, se mexa. 2010 está chegando e o senhor precisará batalhar muito o meu e o voto de muita gente, se quiser continuar na política. Não esqueceremos as suas declarações.