Onde termina o direito individual e começa o coletivo? Esse tema e suas variações volta e meia é discutido na mídia.
Acabou a Páscoa; muitos cristãos e judeus a comemoram, cada um com seu ritual. Para outros, agnósticos ou não como eu, a data favorece a comilança de ovos de chocolate. Até que fui moderado; somente digeri o equivalente a dois bombons por dia. Agora, se eu ficar doente, por comer a iguaria, posso atrapalhar a vida de familiares, amigos, alunos, colegas de trabalho, etc. Tenho esse direito?
Ainda sobre isso, recente lei do Estado de São Paulo praticamente obrigará os fumantes a usufruírem seu vício somente na rua ou em suas residências. Novamente, começou a polêmica. Os não fumantes vibrando com a lei, os fumantes a contestando.
Curiosamente, os opositores da lei estão mais preocupados com os ambientes de bar, onde se bebe à vontade e se complementa com boas baforadas.
É aquele tipo de polêmica que não chega a nada. Eu detesto cigarro, bebo muito pouco (cerveja praticamente nunca) e me recuso a me alimentar perto de fumantes. Agora, quem freqüenta bares e botecos já está se arriscando a morrer mesmo; o cigarro somente apressará essa decisão. Esse tipo de lei é um pouco hipócrita; quem garantirá que o número de fumantes diminuirá e que as pessoas se preocuparão mais com a sua saúde?
O que irrita é como o povo brasileiro é omisso, quando se trata de discutir leis e procedimentos que afetarão a sua vida. Ninguém participa de nada e depois fica choramingando.
Falando ainda do individual e do coletivo, onde trabalho durante o dia freqüentemente alguns colegas saem do banheiro e apagam as luzes. Sou obrigado, com as calças na mão e correndo o risco da porta abrir repentinamente e alguma mulher me ver seminu (o banheiro feminino é ao lado), a correr para acender as luzes. Ora, porque uma pessoa racional sai do banheiro e não verifica se existe outra usando o mesmo? Somente encontro duas possíveis explicações: um extremo grau de distração ou uma exagerada concentração em si mesmo. O individualismo predominando sobre o coletivo mais uma vez.
Recomendo a todos a leitura do livro A Felicidade Paradoxal, de Gilles Lipovetsky, que debate profundamente o dilema da sociedade atual: a contradição entre o hiperconsumo e as barreiras sociais que impedem a plena liberdade de consumo. O indivíduo contra o coletivo.